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Natal (RN), junho de 2025
Quando começou a se construir, no imaginário coletivo do Brasil, a ideia de que o Nordeste era sinônimo de atraso, pobreza e ignorância? E por que esse estigma ainda resiste ao tempo, atravessando séculos, governos e gerações?
Essas são algumas das perguntas que o escritor potiguar Octávio Santiago se propôs a investigar em “Só sei que foi assim: A trama do preconceito contra o povo do Nordeste”, recém-lançado pela Autêntica Editora. O livro é resultado de sua pesquisa de doutorado em Comunicação na Universidade do Minho, em Portugal, mas vai muito além da academia: é uma obra de denúncia, de identidade e de memória coletiva.
“Estereótipos não nascem por acaso. Eles são criados com objetivos políticos, econômicos e sociais. O preconceito contra o Nordeste foi planejado. Não é uma coincidência, é uma construção”, afirma o autor.
Do campo de pesquisa à vivência pessoal
Natural de Natal, Octávio viveu na pele o preconceito quando morou em Brasília. E não foi só ele. Relatos de amigos e familiares que sofreram discriminação por sua origem geográfica serviram como ponto de partida para a investigação mais profunda.
Com 256 páginas, o livro costura vivências, dados históricos e análise crítica sobre como e por que o Nordeste foi estigmatizado, e quem se beneficiou disso.
“Fui movido pela inquietação de entender quando e por que colocaram a gente nesse lugar de ‘menos’. Quem decidiu que o Nordeste era o problema?”, provoca Octávio.
O Nordeste como ‘inimigo conveniente’
Segundo o autor, a construção do preconceito se intensifica no século XX, a partir de uma “separação simbólica” entre o Norte e o Nordeste. Já afetada pela seca e pela desigualdade histórica, a região nordestina passou a ser alvo de campanhas que desqualificavam sua população, sua cultura e até mesmo sua capacidade de trabalho.
Essa narrativa ganhava força justamente quando levas de nordestinos migravam para o Sul e Sudeste, em busca de melhores condições de vida.
“A mão de obra nordestina era vista como miscigenada demais, indesejada para o projeto de branqueamento populacional que estava em curso. Então se montou uma operação midiática e política para afastar o Nordeste dos centros de poder e proteger os privilégios da elite branca e urbana do Sudeste”, explica Santiago.
Ecos do preconceito ainda hoje
Desde o lançamento do livro, Octávio tem recebido novos relatos. E alguns, segundo ele, ainda mais duros do que os que já estavam nas páginas. Um sinal claro de que o preconceito contra o povo nordestino continua vivo — embora camuflado por discursos disfarçados de piada ou “opinião”.
“Muitos leitores me dizem que se reconheceram no livro. Isso é o mais forte: perceber que não estamos sós nesse sentimento. Que há uma história por trás do que sentimos, e que essa história precisa ser contada”, afirma.
Lançamentos e agenda pelo Brasil
A obra será lançada oficialmente nesta terça-feira (10), às 18h30, na Livraria Leitura do Midway Mall, em Natal. No sábado (14), Octávio desembarca em São Paulo para um bate-papo com a jornalista Isabelle Moreira Lima, às 11h, na Livraria Sentimento do Mundo.
Ele também é presença confirmada na Feira do Livro de São Paulo, promovida pela revista literária Quatro Cinco Um, no Largo do Pacaembu. Octávio participa de dois encontros com o público:
Segunda-feira (16), às 17h, no Palco Petrobras, com mediação do jornalista Amauri Arraes
Quinta-feira (19), feriado, às 14h, no Espaço Rebentos, ao lado do escritor e editor Schneider Carpeggiani
Onde encontrar
“Só sei que foi assim” está disponível nas principais livrarias do país. O valor da edição física é de R$ 64,90, enquanto a versão digital pode ser adquirida por R$ 45,90.